Em interrogatório nesta quarta-feira, 7, o empresário Marcelo Odebrecht, delator da Operação Lava Jato, afirmou que as reformas do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo, estavam ligadas à ‘pessoa física’ do ex-presidente Lula. O petista é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro, por supostamente ter recebido propinas da Odebrecht e da OAS em reformas e melhorias da propriedade rural. Ele será interrogado no dia 14. O empreiteiro também é réu neste processo.
À juíza federal Gabriela Hardt, sucessora de Sérgio Moro nos processos da Lava Jato, o empreiteiro contou que soube do sítio de Atibaia quando ‘a obra já estava em andamento’, em 2010. Odebrecht citou o ex-executivo do Grupo Alexandrino Alencar e seu pai Emílio Odebrecht.
“Deve ter sido lá para final de dezembro, em algum momento eu soube não sei se por Alexandrino, pelo meu próprio pai ou por alguém que eu me encontrei. Em algum momento eu soube, no início, eu, inclusive, reagi, fui contra por duas razões específicas. Eu até reclamei porque primeiro eu achava que eu achava que era uma exposição desnecessária, porque seria até então, fora a questão que eu já sabia que havia, que eu também tinha me posicionando contra, mas que era uma coisa bem antiga, que era o assunto do irmão, o apoio ao irmão, mas pelo que eu soube era uma coisa bem antiga e que foi renovado, chegou um momento eu acho que acabou, fora essa questão, seria a primeira vez que a gente estaria fazendo uma coisa pessoal para o presidente Lula”, disse.
Ele citou a história de um terreno em São Paulo que sua empreiteira iria adquirir para supostamente alojar as dependências do Instituto Lula – episódio que sustenta uma outra acusação da força-tarefa da Lava Jato contra o ex-presidente.
“Até então, por exemplo, tinha tido o caso do terreno do Instituto. O terreno do Instituto, bem ou mal, era para o Instituto Lula não era para a pessoa física dele (Lula)”, seguiu Odebrecht em seu relato à juíza.
“Quando eu vi lá, que eu soube, tinha um bando de gente trabalhando na obra (do sítio). Quer dizer, a dificuldade de você manter isso em sigilo, em algum momento vazar, era enorme. Outra coisa, que é uma coisa mais pragmática, eu tinha uma discussão com meu pai, que o alinhamento que eu tinha com ele era de que tentasse todo acordo que ele fizesse com Lula, passar pelo contexto da planilha Italiano. Quer dizer, o conta corrente que eu tinha com Palocci, para que a gente não pagasse duas vezes.”
O ex-presidente está preso em Curitiba desde 7 de abril. Ele cumpre pena de 12 anos e um mês de reclusão, no processo do caso triplex, também por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O petista nega enfaticamente ter recebido valores ilícitos da empreiteira.
Durante a audiência, Gabriela Hardt perguntou a Marcelo Odebrecht se Lula ‘tinha ciência da reforma que estava sendo custeada em parte pela Odebrecht’.
“Ah tinha, com certeza. E, olha, ele sabia que tinha. Eu não escutei isso de Lula, mas meu pai sempre deixou isso claro para mim que ele sabia que estava sendo custeado e, dentro de casa, todos nós entendíamos que aquele sítio era de Lula”, disse o delator.
“O que eu soube foi que esse pedido chegou via Alexandrino, foi autorizado por meu pai e a obra era para o sítio do presidente. Não entrei nos outros detalhes.”
Em outro trecho de seu interrogatório, o empresário disse que reclamou com seu pai sobre ‘valores muito altos’ que o PT, via ex-ministro Antônio Palocci, pedia ao grupo. Numa dessas ocasiões, o patriarca da Odebrecht teria dito ao próprio Lula que o pessoal do PT ia ‘da boca de jacaré para boca de crocodilo’.
“De fato, em vários momentos reclamei de valores muito altos. Falei com meu pai e, de alguma maneira, ele ia lá e reclamava com o Lula. De fato, não foi uma ou duas vezes só que fui reclamar com meu pai das demandas do Palocci, mais o Palocci, que estavam muito altas.”
A juíza questionou Marcelo Odebrecht se, em determinada reunião, houve discussão sobre contratos de interesse da empresa.
“Eu não diria contratos, na verdade, a gente tratou os temas. A gente nunca discutiu, eu, acho que meu pai também, nunca discutiu detalhe de contrato com o presidente. A gente foi discutindo, a agenda é bem clara”, disse.
“Foram os temas que a gente achava relevante da relação, seja da Odebrecht com o Governo, seja da Odebrecht com outros países de Geopolítica brasileira, alguns temas que a gente sempre levava para contribuir com o presidente de maneira institucional, com o país. Quer dizer, não foi nada a ver com contrato. Eu, pelo menos, eu acho que, meu pai também, nunca discutimos contratos, essas coisas, com os presidentes.”
A magistrada perguntou a Odebrecht se, no início do Governo Lula, ele participou de reuniões para ‘reclamar de dificuldades com diretoria de Petrobrás’.
“Não, não participei dessas reuniões. Essas reuniões foram mais no contexto da Braskem. Em relação à Petrobrás, por exemplo, eu tinha uma discordância com meu pai. Eu sempre entendi que Petrobrás devia ser tratada pelos executivos que lidavam com a Petrobrás, junto aos diretores. Se isso incluía fazer contribuição política, eles que deviam avaliar”, relatou.
“Eu nunca levei, nunca tratei esse assunto Petrobrás por cima, digamos assim. Eu achava que isso devia ser conduzido pelos executivos. Meu pai tinha uma visão um pouco diferente. Ele gostava do tema Petrobrás, principalmente relativo a relação Petrobrás com Braskem, então, ele costumava ter o tema Petrobrás na agenda dele com o presidente. Não estou dizendo que tratava-se nada ilícito, mas que o tema Petrobrás de modo geral, na agenda com o presidente.”
Durante a audiência, o Ministério Público Federal perguntou ao delator se ele sabia que os ‘líderes empresariais tinham que efetuar pagamento no interesse do PT, PMDB, PP, no âmbito das diretorias da Petrobrás’.
“Eu seria ingênuo se eu dissesse que eu não sabia. Eu confirmo que eu tinha ciência”, declarou.
Empresário diz que advogado de Lula quis regularizar reforma
Em depoimento à juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro na Lava Jato, o executivo Alexandrino Alencar afirmou que Roberto Teixeira, advogado e amigo do ex-presidente Lula, teria arranjado uma reunião em fevereiro de 2011 para regularizar a obra do sítio de Atibaia após a conclusão das obras.
“O doutor Roberto Teixeira pediu para eu dar um pulo no escritório dele. Eu fui lá e ele disse: ‘Alexandre, foi feita a reforma, agora precisamos regularizar’”, disse Alencar. “No dia 1º de março, estive lá com o Emir Costa, que era o diretor do contrato da obra, de onde foi solicitado para fazer um contrato do subempreiteiro Carlos Prado Rodrigues com o senhor Fernando Bittar para regularizar a obra”.
Fernando Bittar, filho do político Jacob Bittar, era então o proprietário formal do sítio, narrou o empresário. Alencar afirmou que foi negociado que o subempreiteiro emitiria uma nota fiscal descrevendo a reforma no sítio e também outros documentos relativos aos materiais usados durante as obras.
O advogado Roberto Teixeira nega enfaticamente qualquer envolvimento com a reforma do sítio em Atibaia ou que tenha sido beneficiado por ações da Odebrecht.
COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Os depoimentos prestados hoje (07/11) por Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e Alexandrino Alencar reforçaram que é falsa a acusação do Ministério Público contra Lula, buscando vincular contratos da Petrobras com supostas reformas em um sítio situado em Atibaia que pertence a Fernando Bittar e que foi frequentado pelo ex-Presidente.
Marcelo Odebrecht, que é citado expressamente na acusação como sendo a pessoa que teria oferecido vantagens indevidas para Lula interferir em contratos da Petrobras afirmou categoricamente que isso não tem “aderência na realidade”, mesmo sendo delator e tendo recebido benefícios do Ministério Publico para acusar Lula.
Os depoimentos fortaleceram o que sempre foi afirmado pela Defesa de Lula: a narrativa que buscou vincular o ex-Presidente a ilícitos ocorridos no âmbito da Petrobras é totalmente descabida e somente foi construída para submetê-lo a processos e condenações pré-estabelecidas no âmbito da Lava Jato de Curitiba.