Com um dos maiores conjuntos de bacias lacustres do Nordeste, a área de proteção ambiental da Baixada Maranhense foi criada em 1991 com área total de 1.775.035,6 hectares. Manguezais, babaçuais, campos abertos e inundáveis, um conjunto estuário e uma rica fauna e flora são características que fazem da região uma área de grande importância econômica para os moradores.
Esse é o habitat do bagrinho (foto) peixe de couro, com coloração escura e pigmentada, com muco superficial e que pode atingir até 24,6cm de comprimento e peso de 194,29g. Com o nome cientifico de Trachelyopterus galeatus, tem grande importância na região e obtém grande valorização no período da Semana Santa, variando o quilo entre R$ 20 e R$ 27, às margens do rito Pericumã, em Pinheiro, principal cidade da Baixada Maranhense.
O bagrinho é objeto de pesquisa do professor do curso técnico em Aquicultura, do IFMA Campus Maracanã, Weverson Scarpini Almagro. Biólogo com doutorado em Ciência Animal, ele informa que o objetivo é aumentar a produção sustentável do peixe muito pescado artesanalmente na região. O projeto se propõe a pesquisar a viabilidade da cadeia produtiva desse peixe, testando inicialmente a fase de cultivo de alevino a adulto, para posteriormente desenvolver a parte laboratorial da reprodução. “Iremos trabalhar em toda a cadeia produtiva: reprodução, alevinagem, juvenis, engorda e beneficiamento”, informou o professor.
Além da participação do professor Weverson Almagro, o projeto é desenvolvido ainda, pelos professores Paulo Lima e Sílvio Coelho (do IFMA Maracanã), Yllana Marinho e Rodrigo Moura (da UFMA Pinheiro), pelos técnicos Luiz Rocha e José Malheiros (da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão – AGERP), pelos líderes comunitários Carlos Gomes e Kalianis Pinheiro (da Associação dos Pisicultores do Povoado Itans, em Matinha) e pelo consultor Cláudio Urbano.
A pesquisadora da UFMA Campus Pinheiro, Yllana Marinho , explica que está ocorrendo um esforço continuo de produtores na captura de alevinos e juvenis do ambiente natural, para criação em cativeiro. “Isso leva à necessidade de uma intervenção para que se possa produzir em laboratório esses alevinos, diminuindo possíveis impactos ambientais com essa prática”, explicou.
O projeto
O projeto foi implantado em novembro do ano passado, com recursos financeiros do governo do Estado, por meio da AGERP. As atividades são realizadas no IFMA Campus Maracanã. “O projeto nasceu com nossa preocupação pela possibilidade de extinção dessa espécie na região, pela forma extrativista com vem sendo capturado”, explicou o professor Weverson.
A iniciativa tem obtido resultados positivos com a criação e engorda de peixes em cativeiro. “Levamos em torno de 40 dias para fazer a adaptação dos alevinos às condições de cativeiro”, pontuou o pesquisador do IFMA. “Estamos realizando a densidade ideal para engorda”, continuou. “São 5 tratamentos com 5 repetições, 4, 6, 8, 10 e 12 peixes por metro quadrados”, informou. “Simultaneamente, a UFMA Pinheiro está pesquisando a reprodução e taxa de sobrevivência de alevinos”, disse.
“Essas etapas são importantes para que possamos coletar dados e para que a gente possa trazer a orientação para os agricultores familiares e piscicultores da baixada”, explica o pesquisador Luiz Rocha da AGERP. “O nosso projeto está alicerçado na sustentabilidade, com viés ambiental, social e econômico”, continuou. “A nossa intenção é socializar todas as informações para agricultores, escolas e a população do Maranhão”, prosseguiu. O projeto prevê a elaboração de duas cartilhas pedagógicas sobre o processo de manejo e engorda e processo reprodutivo com foco nos piscicultores maranhenses.
Em julho, as pesquisas serão desenvolvidas também em Pinheiro e, em setembro, no município de Matinha no povoado Itans, em parceria com a associação dos pescadores. “Temos a intenção, ainda, de estimular os nossos cursos técnico e superior a gerar projetos de pesquisa”, pontuou Weverson.
“A nossa pesquisa é super importante pois evitará a extinção dessa espécie em nosso estado”, avaliou. “É tudo novo sobre essa espécie e basicamente não temos trabalhos sobre a sua cadeia produtiva”, informou. “Há um pouco de informações empírica e a UEMA começou um trabalho na linha de reprodução”, concluiu.
Metodologia
O estudo da viabilidade produtiva e econômica do bagrinho se iniciou com a a fase de engorda, com a captura de 4 mil alevinos no ambiente natural.
Vinte e cinco caixas d’água de fibra, com volume de 500 litros, foram instaladas sob uma estrutura física coberta com sombrite. São realizados 5 tratamentos com 5 repetições casualizadas por sorteio, para atender as bases estatísticas. No 1º momento do projeto, está sendo contemplado apenas a fase de engorda, quando através da conversão alimentar e parâmetros físico-químicos será avaliado a viabilidade econômica do cultivo do bagrinho.
1º Momento: quando os alevinos atingirem o tamanho adulto, peso de abate, as espécimes servirão de matrizes reprodutoras para execução da pesquisa em laboratório. O domínio do processo reprodutivo será repassado para os piscicultores, evitando assim a retirada do referido peixe do ambiente natural, mitigando assim a pressão sobre os estoques naturais da espécie.
2º Momento: para a reprodução, será realizado o processo de indução hormonal nos exemplares machos e fêmeas, com maturação gonadal, para liberação de óvulos e espermatozoides, para, após a fecundação, o material ser colocado nas incubadoras para eclosão de larvas.
O manejo alimentar será realizado com o uso de ração com o mesmo teor calórico e proteico para todos os tratamentos. A frequência alimentar, em todas as fases, é de três vezes ao dia, sendo ministrado 30% da ração diária nos dois primeiros horários e o restante no ultimo horário.
A biometria será realizada mensalmente com base no peso médio, comprimento médio, biomassa, conversão alimentar, custos de produção, verificação da sanidade animal e taxa de mortalidade.
Ao final do projeto, será constatada a viabilidade produtiva e econômica nas fases de alevinagem, juvenil e engorda do bagrinho, com diferentes densidades populacionais, mediante a identificação do ganho de peso, conversão alimentar, custos de produção da espécie, peso e tamanho ideais para comercialização e parâmetros físico-químicos de água mais confortáveis.
Também serão obtidas matrizes reprodutoras para domínio da pesquisa em laboratório e disponibilizadas informações aos piscicultores, possibilitando alternativas mediante o cultivo, com redução da pressão sobre os estoques naturais.
Povoado de Itans
Em setembro, os experimentos serão desenvolvidos no município de Matinha no povoado Itans. O povoado, localizado a 16 Km da área urbana de Matinha, tem pouco mais de mil habitantes e após uma década do início do projeto de piscicultura, é considerado uma referência na atividade de piscicultura na Baixada Maranhense. Com uma produção de 60 mil toneladas de peixes por mês e receita líquida de R$ 4,44 milhões/ano, a atividade alterou, positivamente, a vida de moradores que atuavam na agricultura de subsistência.
A Associação dos piscicultores congrega mais de 80 associados e hoje já recebe estudantes do IFMA dos campi Viana e São Luís Maracanã para vivenciar, na prática, a teoria obtida em sala de aula.
Itans deu a sua contribuição para que a produção de peixes em cultivo no estado do Maranhão saltasse 47,4%, atingindo 39.050 toneladas em 2018. Com isso, o estado passou para a 6ª posição entre os estados na produção de peixe em cultivo em todo o país e é o líder na região Nordeste, de acordo com o relatório da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixes BR), publicado no Anuário 2019. O Maranhão ocupa, ainda, a terceira posição na produção de peixes nativos do país, segundo o relatório.