Ida de Guedes à CCJ é marcada por clima tenso e bate-boca

A audiência do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ), nesta quarta-feira, 3, foi marcada por bate-boca, clima de tensão e troca de acusações entre os congressistas e o representante do governo Jair Bolsonaro. E acabou terminando após provocação de deputado que chamou Guedes de “tigrão” e “tchutchuca”. A sabatina tinha o objetivo de esclarecer aos deputados pontos sobre a reforma da Previdência.

A sessão foi encerrada por volta das 20h30, após o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmar que Guedes é “tigrão” com aposentados, idosos, agricultores e professores e “tchutchuca” quando trata dos mais privilegiados do país, banqueiros e rentistas. O ministro se revoltou com a declaração. “Tchutchuca é a mãe, é a avó”, afirmou Guedes. A sessão virou uma confusão generalizada e foi encerrada.

Em mais de seis horas de reunião, Guedes teve de responder a diversas perguntas, principalmente, de deputados da oposição, que conseguiram praticamente dominar os questionamentos ao ministro. Deputados do PT, do PSOL e do PSB foram protagonistas de bate-bocas.

Guedes se irritou com algumas interrupções de deputados que o questionavam durante a sua fala. O líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), criticou pontos da reforma da Previdência sobre a idade de aposentadoria de  empregadas domésticas. O deputado deu exemplo de uma senhora que só se iria se aposentar aos 62 anos. O ministro rebateu e disse que, pelas novas regras, ela só iria se aposentar trabalhando cinco meses a mais. Os deputados se revoltaram e começou a discussão.

O ministro se exaltou e acusou os parlamentares de não terem agido nas últimas décadas para corrigir injustiças. “Vocês estão há quatro mandatos no poder. Por que deram dinheiro para a JBS? Por que deram privilégios para bilionários? Vocês estão há 18 anos no poder e não tiveram coragem de mudar. E não querem dar três meses ao novo governo.”

Guedes também criticou o fato de ser interrompido por deputados. “Eu ouvi, eu respeitei a Casa. Mas a Casa não está me respeitando, não me dá o direito de falar.”

Pouco antes de pedir uma pausa, o ministro ainda afirmou que a responsabilidade de avaliar a reforma é dos deputados. “A constitucionalidade é aqui. Nós temos especialistas, mas, se estivermos errados, com certeza os senhores irão corrigir. Sei que você estão representando um papel importante.”

Na abertura da fala do ministro, no início da sessão, por volta das 14h30, Guedes se envolveu na primeira discussão com deputados da oposição. Enquanto falava, o ministro respondeu à deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) que perguntou, fora do microfone, sobre a necessidade da economia de 1 trilhão de reais em dez anos.

Outros deputados começaram a perguntar fora do microfone e Guedes perdeu a paciência. “Fala mais alto que eu não estou ouvindo”, disse a parlamentares, enquanto a situação gritava “Chile” em alusão ao sistema previdenciário do país, que utiliza a capitalização. Guedes caiu na provocação e respondeu. “O Chile tem 26 mil reais de renda per capita, quase o dobro do Brasil. Acho que a Venezuela está bem melhor.”

Deputados do PSOL levantaram cartazes com dizeres como “PEC da Morte” e “Reforma para banco lucrar”.

Em outro momento, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) pediu para que o ministro apresentasse sua declaração de Imposto de Renda. Guedes respondeu que já a apresentou à Comissão de Ética. “Não é para ganhar [que entrou no governo], é para perder. Não tenha dúvida. É para fazer um Brasil melhor. Há problemas não resolvidos que estão se agudizando”, afirmou.

Crítica da proposta do governo para o benefício assistencial a idosos de baixa renda, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) questionou o ministro se ele poderia viver com o valor defendido no texto. “O senhor conseguiria viver um mês, apenas um mês, de sua vida com 400 reais?”

Por volta das 20h, o ministro da Economia fez um comentário que incomodou o Congresso. “Quem aqui acha que ela [a reforma da Previdência] não é necessária? Isso é um problema sério. Sinceramente, vai ter que internar”, disse Guedes.

Os congressistas não aceitaram o comentário e o caracterizaram como uma afronta à Casa, o clima ficou tenso mais uma vez. Quando conseguiu reaver a palavra, Guedes explicou que não falava de sua proposta de reforma, mas que se referia à necessidade brasileira de algum tipo de mudança.

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