O Brasil poderia ter até 10 mil casos de câncer a menos por ano se houvesse mais adesão à prática de atividade física entre a população. A afirmação faz parte de um estudo realizado no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, Universidade de Cambridge e Universidade de Queensland. O artigo foi publicado na revista científica internacional Cancer Epidemiology.
Para chegar a essa proteção máxima, no entanto, seriam necessárias 5 horas de atividade física diária. Acredita-se que esse era o nível de movimento que o ser humano tinha quando vivia em sociedades caçadoras. Mas até os pesquisadores acham praticamente impossível alcançar esse nível de atividades hoje em dia, considerando a rotina de boa parte da população.
A última pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013, mostra que aproximadamente metade das pessoas sequer atingiu a recomendação mínima preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a prática de exercícios por semana, ou seja, 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos em ritmo mais intenso.
As mulheres estão em desvantagem em relação aos homens. É maior o número de mulheres que não se exercitam, cerca de 51%, enquanto os homens, é de 43%.
Ainda de acordo com o estudo, fazer exercícios físicos por pelo menos meia hora por dia durante cinco dias na semana poderia prevenir pelo menos 2.250 casos de câncer de mama e de cólon no país.
As contas foram feitas a partir de dados da prática de atividade física no Brasil, dados sobre risco de câncer associados à falta de atividade física de uma extensa revisão de literatura, além de dados sobre a incidência de câncer publicados pelo Inca e pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer.
Controle de peso é fundamental
O impacto da atividade física na redução dos casos de câncer se dá por conta do controle do nível de gordura, além de atuar diretamente sobre hormônios e marcadores inflamatórios. A falta dos exercícios aumenta o risco de incidência de alguns tipos da doença, principalmente as que foram objetos de estudo, o câncer de mama e o de cólon.
Vale dizer que a obesidade já foi associada a 13 tipos de cânceres (mama pós-menopausa, cólon, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide).
Incidência de câncer no Brasil
Segundo o Inca, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano. Em 2018, há uma estimativa de aproximadamente 60 mil novos casos. Já no câncer colorretal, os tumores acometem parte do intestino grosso (o cólon) e o reto. Grande parte desses tumores se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso e se tornarem malignos. Em 2018, a estimativa é de 36 mil novos casos.