COSTUMAMOS DIZER que o mundo é pequeno, que quem é vivo sempre aparece e coisas do gênero. Tais afirmativas pertencem à sabedoria popular, que não erra, e nenhum encontro pode ser mais agradável do que rever aquela pessoa que mora no coração da gente, a alma irmã, mas que, por uma razão ou outra, não vemos há tempos. Um dos poemas de que mais gosto, de Robert Frost, tem o título “O caminho não percorrido” (The road not taken) e trata, exatamente das escolhas que fazemos tendo os caminhos como símbolos. Pois é, amiga, você seguiu por um caminho e eu, por outro. Mas, é claro, lá adiante muitos caminhos se cruzam, e os nossos se cruzaram. E por que isso é importante? Porque, nos tempos atuais, na medida em que os recursos tecnológicos afastam as pessoas, nada pode ser mais reconfortante do que o encontro – ou o reencontro – com aquelas pessoas especiais que, por si sós, fazem valer a luz do sol. O que mais vemos, em geral, é o distanciamento entre as pessoas. Lembra uma crônica de Rubem Braga, Despedida. Tal como a separação da forma como o cronista a descreve, hoje não há mais despedidas. Simplesmente, cada um vai numa direção e, de repente, não mais se veem. E, excetuando aqueles de quem realmente gostamos, os apenas conhecidos desaparecem no horizonte. São como aquelas nuvens distantes, lá longe, que vão aos poucos se desfazendo até não mais as vermos. Não houve despedidas porque foram os fatos do dia a dia que nos separaram. O corre-corre da vida moderna e a necessidade de sobrevivência, representada por muitas horas diárias de trabalho, além do isolamento causado pela moderna tecnologia da comunicação, que é considerada uma entre os vilões dos tempos modernos. Já começamos a perder de vista os tempos da conversa face a face, das rodinhas de bate-papo na esquina da rua, ao longo das quais falava-se de tudo e de nada importante. Na verdade, aqueles momentos já se perdem num passado quase remoto. Mas, de repente, em meio a tudo o que nos cerca, o vasto mundo de Drummond faz com que os caminhos se cruzem e lá está aquela pessoa a quem não vemos há muito tempo, mas de quem não esquecemos. É a hora de agradecermos pelo mundo pequeno em que vivemos e retomar, sem a mediação tecnológica, os laços que não foram de todo rompidos.
Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.