ALGUÉM AÍ CONHECE a Ilha de Marapatá? Alguém sabe onde fica a Ilha de Marapatá? Temos as ilhas de Marajó, do Bananal, do Governador, de São Luís, de Paquetá, de Itaparica e muitas outras. Mas, e a de Marapatá? Onde, afinal, está localizada essa ilha? Pois saibam todos que neste texto pousarem os olhos que Marapatá é aqui. Situemo-nos melhor. Em Macunaíma, Mário de Andrade nos diz que é na ilha de Marapatá que os indivíduos deixavam a consciência antes de entrar em alguma empreitada. Ou seja, fora de Marapatá não havia consciência para guiar o indivíduo. E é isso que muitos dos nossos compatriotas, em especial aqueles no (ou perto do) poder, andam fazendo há muito tempo: guardaram a consciência em Marapatá e estão aprontando à vontade, sem um pingo de vergonha na cara. Lá estão a consciência, a ética e a moral, bem como o respeito pela sociedade. No caso de Macunaíma, a situação se explica: ele era o herói sem nenhum caráter. Mas, diante das circunstâncias, não chegava a ser um mau caráter. Já os nossos “macunaímas” (com inicial minúscula e nenhum caráter) primam pelo mais deslavado mau-caratismo. Basta atentarmos para fatos bem recentes para vermos a que ponto chegou a desfaçatez de políticos e, agora às claras, a de empresários e de altos executivos aos quais, supostamente, compete administrar (uns) e construir (os outros) o país. Indignar-se, apenas, não resolve o problema. Urge que a sociedade tome posição enérgica contra tantos descalabros e cobre rigorosa punição para os envolvidos e o ressarcimento dos cofres públicos. Como? Você já ouviu este discurso antes? Eu também. Repito-o apenas para ver se, um dia, os anjos dizem amém. Mas sabemos que quando esses figurões vão parar na cadeia, não é por muito tempo. Num piscar de olhos, voltam para suas luxuosas mansões, onde cumprirão “prisão” domiciliar com todo o conforto que as propinas podem proporcionar e, em muito pouco tempo, todos esquecerão o assunto e os nossos “macunaímas” viverão – como já viviam – felizes para sempre. Tudo isso é reflexo do fato de nós, povo; nós, sociedade, também termos deixado a nossa consciência cívica em algum lugar na ilha de Marapatá, e está difícil acharmos o lugar onde a deixamos. Enquanto não a encontrarmos, enquanto a sociedade não recuperar sua consciência cívica, estaremos à mercê daqueles que, colocando-se acima da lei, envergonham e desrespeitam todos os cidadãos de bem.
Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.