Coluna Folhas Soltas – por Geraldo Campos

“EU NÃO SOU UM POEMA, sou uma mulher!” Como, cara amiga? Por que você não pode ser um poema? Desde muito tempo, a imagem da mulher é cantada em prosa e verso. Um ponto de partida? Reporte-se ao Quinto Poema (Ct. 4:7) do Cântico dos Cânticos:és toda bela minha amada/e não tens um só defeito”. Aí pelo século XIII, Dom Dinis, o rei-trovador de Portugal, escreveu: “A mulher que eu amo e tenho por senhora / traga-a para mim, Deus, se for tua vontade / ou dá-me a morte.” Ao longo das eras, a mulher tem sido fonte de inspiração para milhares de linhas poéticas, e sempre houve algum destaque para a figura feminina. Elas inspiraram medo – vide as muitas queimadas nas fogueiras da Inquisição – e admiração, retratada em textos, pinturas e esculturas. Os poetas, mais que todos, souberam reproduzir, em versos, a alma feminina. Guerra Junqueiro escreveu: “Tu és a mais rara / De todas as rosas; / E as coisas mais raras / São mais preciosas.” Vinicius de Moraes vai mais longe: “No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida”. Victor Hugo vê, nela, uma grandeza quase divina: o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu.” Gonçalves Dias mostra a submissão à amada: “Enfim te vejo! – enfim posso, / curvado a teus pés, dizer-te, / que não cessei de querer-te, / pesar de quanto sofri.” E Machado de Assis realça o mistério do eterno feminino: E que esta criatura, adorável e divina, / Nem se pode explicar, nem se pode entender: / Procura-se a mulher e encontra-se a menina, / Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!” E que dizer de Honoré de Balzac, autor do clássico: A mulher de trinta anos? Ele mereceu, de uma amiga, a afirmação de que nunca um homem conseguiu compreender tão bem o coração das mulheres. E há muitos outros que se renderam aos encantos femininos, transformando em lirismo a felicidade que os anima ou a dor que lhes vai no peito. E, se alguém quiser saber o porquê, os franceses sugerem: cherchez la femme! Todavia, além de poemas, trovas e textos enaltecendo a figura feminina, persiste o mistério que a cerca. E, antes de tentar esclarecê-lo, melhor considerar as palavras de uma mulher, símbolo de uma época: Simone de Beauvoir. Ela escreveu: “Não se nasce mulher, torna-se”.

 

Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.

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