Coluna Folhas Soltas – por Geraldo Campos

HOJE NÃO TEM CRÔNICA Como assim, pergunta o leitor curioso. É isso mesmo, caríssimo: hoje não tem crônica. Ou melhor, tem e não tem. Pera aí! Tem ou não tem? Deixe-me esclarecer: tem porque não tem. Entendeu agora? Bem, vejamos. Imagine você, amigo leitor, passar uma semana inteira sem que algo de importante ou interessante aconteça. Pelo menos algo que mereça ser gravado em palavras. Foi exatamente esse o problema: uma semana rotineira, monótona, sem qualquer evento minimamente interessante. Mas tem a política nacional. Sim, tem. Mas ela é mais do mesmo. Aí, caríssimo leitor, a gente fica sem ter sobre o que escrever. Isso é comum! Um romancista pode, em um determinado momento, ficar sem saber que sequência dar para seu texto. É o momento daquela expressão muito comum: “deu branco”. Pois é, acontece com qualquer um. De repente, você olha para o papel a sua frente e nada lhe vem à cabeça. Você rabisca daqui, rabisca dali, desenha bichinhos, casinhas, árvores… Mas palavra que é bom, não vem. Uns se angustiam, embolam as folhas de papel, jogam-nas na cesta do lixo e andam de um lado para o outro à beira do desespero. Outros, mais práticos, simplesmente levantam-se e vão procurar outra coisa para fazer, certos de que, no momento exato, a palavra-chave, tão esperada, surgirá. Às vezes, o momento é inadequado. Quando se está no chuveiro, por exemplo, ou preso em um engarrafamento, ou em qualquer situação na qual é impossível o acesso a lápis e papel. Mas o importante é que ela chegou e, mais cedo ou mais tarde, o texto vai fluir naturalmente, e segundo a vontade do autor. Mas há um terceiro grupo: aquele dos que transformam o não-ter em ter, a não-palavra na palavra e escrevem sobre o que não há para escrever. Confuso, amiga leitora? Eu explico. Até alguns minutos atrás, eu não tinha ideia do que escreveria. Foi uma semana absolutamente vazia de temas polêmicos ou interessantes. Pois então, o que fazer? Ora, direis, nada! Como nada? Claro que não! Se falta assunto, isso é um assunto. Simples. Discuta, pois, com seus pares, a importância de não ter o que falar ou sobre o que escrever. Lembre-lhes de que o silêncio – escrito ou falado – é de ouro. O quê? O “silêncio escrito” está esquisito? Tá, depois eu explico. Pois então, aí está. Temos uma crônica sobre a falta da própria. Divirtam-se.

 

Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.

 

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