SAIAMOS À RUA. Olhemos ao redor. Que vemos? Centenas, milhares de pessoas num vaivém que parece sem fim. Rostos alegres ou tristes, sorridentes ou sisudos, atentos ao que se desenrola em volta ou absortos em algum pensamento distante. Mas o que vemos em todos é a máscara do cotidiano. Há os que chamam a atenção e os que passam despercebidos. E lá vão todos, cada um em seu mundo, enredados nos liames da própria vida. À primeira vista, parece que estão sozinhos no mundo, alheios à multidão que os cerca. Mas há situações que dão nova cor ao dia – ou a um breve instante. Foi assim com a passageira ao lado. Certos espaços aproximam as pessoas. Querendo ou não, tomamos consciência de que ali, a nosso lado, há alguém, há um mundo que nos é desconhecido. E um bom lugar para que esta aproximação, ainda que paradoxalmente distante, se torne mais clara é a bordo de um avião. A passageira ao lado sentou-se na poltrona com o ar de quem está em paz consigo mesma. Alta, de uma beleza tranquila, chamou-me a atenção o rosto sério, que, vi depois, emoldurava um belo sorriso. Quem é? Para onde vai? Por quais caminhos seus pés a levariam? Curiosidade própria dos humanos. Conversamos muito pouco. Sei que ela seguiria rumo ao sul e que se chama Eugênia, nome bem apropriado: significa bem nascida. Mas, e daí, alguém pode perguntar. Daí, tudo e nada. Ela seguiu viagem e eu fiquei no cerrado. Entretanto, há sempre uma lição que pode ser aprendida a partir dos eventos mais simples. A todo momento estamos encontrando alguém. Nem sempre estamos a 500 metros uns dos outros, como escreveu, em bela crônica, Cecília Meirelles. Às vezes, encurtamos essa distância, nos aproximamos do outro e descobrimos a beleza de ser, não de existir, de ser. A passageira ao lado mostrou-me, por sua simples presença, que a humanidade, apesar de todas as mazelas, de todos os descaminhos, merece perdão. Mostrou-me que é possível o conviver tranquilo. Que com poucas palavras, mesmo com o silêncio, podemos estabelecer a magia da comunicação, construindo uma ponte entre todos os humanos. A passageira ao lado talvez não saiba, mas, por uns poucos minutos, ela espalhou paz em um pequeno espaço, e cabe a mim, como a muitos outros em situação semelhante, tomarmos nas mãos esse pequeno pedaço de paz e fazê-lo grande, espalhando-o pelo mundo.
Geraldo Campos é professor, com passagem pela UnB e pela Universidade Católica de Brasília, jornalista e, nas horas vagas, contista (com alguns prêmios). Começou no jornalismo como revisor do Jornal do Brasil e, posteriormente, da revista Manchete. Passou por outros veículos de comunicação entre os quais as Tvs Aratins e Araguaína, no Tocantins, nas quais foi diretor de jornalismo. Tem, no currículo, trabalhos para a editora da UnB, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria de Reforma do Judiciário, entre outros.