A Congregação para a Doutrina da Fé expulsou do sacerdócio o ex-cardeal e arcebispo emérito de Washington, Theodore McCarrick, de 88 anos, após ser acusado de abusos sexuais a menores e seminaristas, informou neste sábado (16) a assessoria de imprensa da Santa Sé, através de um comunicado.
Esta é a primeira vez na história da Igreja Católica que um cardeal perde seu título por motivos de abusos sexuais.
A decisão acontece depois da investigação sobre o caso ordenada pelo papa Francisco e poucos dias antes de o Vaticano realizar uma cúpula histórica contra os abusos a menores por parte de religiosos convocada para a próxima semana.
Os grandes escândalos que foram revelados nos Estados Unidos, no Chile e na Alemanha mancharam a credibilidade da Igreja Católica.
O papa Francisco, que quer aplicar sua promessa de “tolerância zero”, prometeu nestes últimos meses que seria intransigente com a alta hierarquia eclesiástica.
O pontífice já tinha removido McCarrick do Colégio dos Cardeais e também ordenou que permanecesse afastado das suas funções e recluso até que acusações de abuso sexual contra ele fossem esclarecidas em um julgamento canônico.
A Congregação para a Doutrina da Fé considera McCarrick culpado pelo abusos a menores e adultos com o agravante de abusos de poder e por isso impôs a pena de redução ao estado laical, diz o comunicado oficial.
“O Santo Padre reconheceu a natureza definitiva, em conformidade com a lei, desta decisão, que torna o caso resolvido, isto é, não sujeito a uma nova apelação”, acrescenta.
A redução ao estado laical prevê que os sacramentos não podem ser administrados, vestir-se como um sacerdote e qualquer tipo de salário é suspenso.
Com sua exclusão oficial da Igreja, o homem, recluso atualmente no estado do Kansas, nos Estados Unidos, simplesmente se torna Theodore McCarrick.
McCarrick, arcebispo de Washington de 2000 a 2006, foi acusado de abusar sexualmente de menores e de se comportar mal com jovens sacerdotes. Ele foi ordenado cardeal por João Paulo II e participou do conclave de abril de 2005 onde foi eleito o papa Bento XVI.
Denúncia e renúncia
Em julho do ano passado, um homem quebrou seu silêncio depois de 40 anos e revelou ao jornal americano “The New York Times” que o ex-cardeal tinha abusado dele quando era menor de idade, uma situação que tinha supostamente tinha durado por duas décadas.
No mesmo mês, o papa Francisco aceitou o pedido de renúncia de Theodore McCarrick. Em junho, após as acusações de assédio sexual, o Vaticano já havia pedido a McCarrick que não exercesse mais publicamente o seu ministério.
Na época, McCarrick disse não ter lembranças do suposto abuso do menor, mas não comentou relatos divulgados pela imprensa de que forçaria homens adultos a estudarem para o sacerdócio a dormir com ele em uma casa de praia em Nova Jersey.
McCarrick disse aceitar a decisão do Vaticano “em obediência”. “Mesmo não tendo antecedentes de abusos, e crendo na minha inocência, estou desolado pelo sofrimento duradouro da pessoa que fez as acusações e pelo escândalo que causaram”, afirmou ele em carta. O episódio de abuso teria acontecido há mais de 45 anos.
O caso abalou a hierarquia da Igreja Católica americana, pouco antes da publicação de um relatório devastador sobre os abusos maciços cometidos na Pensilvânia.
Em 2015, o papa Francisco aceitou a renúncia do monsenhor Keith O’Brien a todos os direitos do cardeal, após ter demitido dois anos antes como arcebispo de Edimburgo quando foi acusado de “atos inapropriados” com jovens padres. O prelado, no entanto, manteve o título do cardeal até a sua morte, em março de 2018.
A perda da púrpura por parte de um cardeal teve um único precedente na história da Igreja Católica, em setembro de 1927, e não teve relação com abusos sexuais: o cardeal Louis Billot havia apoiado o movimento antifascista e antissemita “Action Française”, condenado por Pio XI, e após ser recebido pelo papa, deixou seu cargo.